David Ceccon

Ish, essa é uma pergunta bem complicada e meio trap hahaha. Certamente é um curso bem melhor estruturado e com muito mais apoio do que as artes visuais da UFRGS. Que tem deficiências, todos os cursos tem e pra mim a maior delas é só existir dois tipos de diploma que é, licenciado ou bacharel em tradução. Eu sei que na UFMG (não sei sobre outras do Brasil) e em universidades de outros países existem vários tipos de ênfase que te dão diplomas específicos em linguística, literatura, tradução, ensino, etc.
Eu acho que a UFRGS tem um ensino muito forte na área de tradução e discurso/teoria do texto. E eu sinceramente era e ainda sou muito apaixonado pelos estudos das Letras - literatura, linguística, línguas, teoria do texto e mesmo teoria de tradução. Eu sai do curso porque não era uma carreira que eu queria seguir como profissional. Eu sei que existem muitas deficiências dentro do curso, que vão desde estruturais, a falta de professores, professores ruins, lacunas no currículo, matérias que deveriam existir e não existem, ou a própria estrutura do currículo em si. Mas, em comparação às artes, o diretório academico da Letras é maravilhoso, eu sou fã de carteirinha da Jane Tutikian hahahaha, a COMGRAD funciona e tem uma boa articulação com os alunos (gente, cês não tem noção do que é nas artes), os professores tem gabinetes (e a gente nem prédio que acomode os alunos tem!!!) e a letras tem uma relação com o intercâmbio de alunos muito mais viva e presente dentro do curso do que a artes (mal se fala disso, ou quando se fala é despretensiosamente, nenhum professor te pega pela mão e QUER te levar pra outro país e faz o possível pra isso acontecer).

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Vocês vejam que eu falei bem mais das questões estruturais, porque acho que esse é um dos grandes pontos fortes da letras que eu só percebi quando mudei de curso e quando perambulei pelas humanas. Mas eu acho, por exemplo, a estrutura curricular insana, não tem como aprender literatura ocidental em 1 ano, literatura brasileira em 4 cadeiras, linguística pingada, etc. Sem contar as divergências internas e rixas entre os setores, né... ai na verdade isso é um assunto pra se discutir com muito tempo e muita bebida.

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Sei lá sabe, eu não tenho a solução pro mundo... acho que o que a gente (no caso, a gente seria os intelectuais, pessoas que estudam ou tem uma base pra propor suas opiniões, porque qualquer pessoa falando disso seria mera especulação) pode fazer é analisar as coisas que estão acontecendo agora e propor alternativas, mas nada vai ser uma solução óbvia e imutável. A estrutura social também é uma estrutura cultural, individual, etc. e acho que as teorias pós-estruturalistas tão aí pra mostrar isso. E, por mais cliché que seja citar isso, Foucault aborda muito bem essas questões de relações de poder de uma maneira que mostra que a relação entre, por exemplo, policia e crime não é só unidimensional. Acho que obviamente uma coisa tem uma relação direta com a outra, mas as coisas são mais complexas que isso. Por exemplo, As Intermitências da Morte do Saramago, é uma desconstrução de toda a sociedade a partir do conceito da morte e, inclusive, muitos autores e eu mesmo concordo que todo o desenvolvimento tecnológico humano (num conceito amplo de tecnologia) vem da nossa vontade de fugir da morte ou da efemeridade da vida. Mas aí entra outra questão no que tu colocou: o que é crime. O ser humano tem uma agressividade natural (seja por questões de sobrevivência, ou questões que fogem do meu conhecimento), agora, isso pode surgir dentro da sociedade como forma de violência ou não. Certamente, há muitos códigos que tentam regular o que é aceito ou não dentro de uma sociedade ao longo de toda a história humana. E a maneira com que cada sociedade tentou (ou não) lidar com isso. Por exemplo, entre o código de Hamurabi e a nossa constituição criminal existe uma diferença enorme para um suposto mesmo problema. Ou mesmo dentro das religiões, por exemplo, os 10 mandamentos também são uma maneira de regular uma sociedade, ou as convenções dentro de sociedades tradicionais. Mas mesmo o que é julgado ou não tolerável dentro de uma sociedade moderna pode ser questionável, e gera terríveis discussões a nível mundial né. Por exemplo, em algumas interpretações do alcorão se incentiva o apedrejamento de mulheres em praças públicas, porém pra nós, ocidentais, isso seria um crime de assassinato. Ou mesmo esse caso francês recente. Ou, saindo do escopo da religião, um estrangeiro ser sentenciado a pena de morte por um crime, mesmo que em seu país não exista pena de morte. Quando falamos de fronteiras geográficas, sociais e culturais, o assunto fica muito mais delicado e mais ficam óbvias as incongruências que existem, que, num primeiro plano, a relação crime-policia-advogado, ou riqueza-pobreza parecem não transparecer.
Mas, isso foi só um grande questionamento, eu não tenho uma solução divina pra esses problemas.

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