David Ceccon

Sou totalmente a favor, é triste que direitos tão básicos como esses sejam tão controversos em um país que tem suas leis subordinadas a dogmas religiosos e hábitos morais provincianos conservadores. É um absurdo que uma pessoa seja morta por amar, ou por escolher ser feliz (como, todos os dias, se noticiam casos de violência e assassinatos homofóbicos, transfóbicos e contra travestis). É triste que se dissemine o ódio, a intolerância, a violência e não o amor, a aceitação, a beleza das diferenças. É triste ver uma mãe enterrar seu filho de 18 anos por causa que ele amava outros rapazes. É doloroso ver que mulheres lésbicas são estupradas porque "gostar de mulher é falta de um homem de verdade". E mais triste ainda é o estado não reconhecer isso como crime, fechar os olhos pras violências domésticas, violências disseminadas pela sociedade, e esse próprio estado aceitar essas violências - aceitar pois um poder abnegar um posicionamento sobre tais questões é uma forma de ceder a elas, de concordar. Tem uma obra de um dos artistas que eu pesquiso, o Wojnarowicz, que eu acho muito sintetizadora de todo esse sentimento, e toda vez que eu vejo ela, me dói o coração.

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(“Um dia esse menino irá crescer. Um dia esse menino irá conhecer algo que causa uma sensação semelhante à da Terra saindo de seu eixo. (...) Um dia esse menino irá sentir uma agitação em seu coração, sua garganta e sua boca. Um dia esse menino irá sentir algo que faz com que homens que vestem roupas de padre e rabinos, homens que moram em certos prédios de pedra, clamarem por sua morte. Um dia, políticos irão propor leis contra esse menino. Um dia, famílias vão dar falsas informações para suas crianças e cada criança irá passar essa informação para a próxima geração de suas famílias e essa informação será destinada a fazer intolerável a existência deste menino. Um dia esse menino irá vivenciar todas essas atividades em seu ambiente e essa atividade e informação fará com que esse menino se sinta tentado a cometer suicídio ou se submeter a perigos na esperança de ser assassinado ou se submeter ao silêncio e à invisibilidade. Ou, um dia, esse menino irá falar. Quando ele começar a falar, homens que desenvolveram um medo desse menino vão tentar silenciá-lo com estrangulamento, socos, prisões, sufocamento, estupro, intimidação, drogas, cordas, armas, leis, ameaças, gangues, garrafas, facas, religião, decapitação e queimaduras. Médicos irão anunciar que esse menino tem cura, como se seu cérebro fosse um vírus. Esse menino irá perder seus direitos constitucionais contra a invasão de sua privacidade pelo governo. Esse menino irá enfrentar eletrochoque, drogas e terapias comportamentais em laboratórios comandados por psicólogos e pesquisadores. Ele se sujeitará à perda de seu lar, direitos civis, empregos e toda a sua liberdade.Tudo isso irá começar em um ou dois anos, quando ele descobrir que deseja colocar seu corpo nu junto ao corpo nu de outro menino.”

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